Brasil poderia ter poupado metade de suas florestas incendiadas,
caso já tivesse regulamentado o uso de retardantes no combate ao fogo. A
estimativa é do professor Alexandre Beutling, doutor em comportamento
do fogo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
94.521 focos de incêndios de pelo menos 30 metros quadrados foram
registrados no país, do início do ano até o dia 6 de outubro.
“Infelizmente, enquanto não houver essa regulamentação, o Prevfogo,
órgão responsável pela prevenção e combate a incêndios florestais no
país, não utilizará esse produto”, disse Beutling à Agência Brasil.
“No entanto, esse é um assunto bastante polêmico, já que existe uma
corrente que sempre aponta os impactos ambientais negativos que podem
ser causados pelo produto, que é aplicado em uma faixa pequena, de
apenas 5 a 10 metros de largura. Testes que fizemos mostraram que a
aplicação nessa faixa é muito menos impactante do que a ocorrência anual
de incêndios nessas áreas”, explica o professor.
Segundo Beutling, a aplicação do retardante, quando feita de forma
correta, atua com 50% de eficácia na redução da velocidade de propagação
do fogo e na altura das chamas. “Usando isso como referencial de
combate, pelo menos metade da área queimada poderia ter sido poupada”,
estima Beutling.
“Mas essas são conclusões a partir de estudos preliminares. Para isso
ser [cientificamente] comprovado serão necessários ainda testes
complementares, feitos a partir de regras definidas pela própria
regulamentação”, acrescentou o especialista.
Os retardantes são basicamente constituídos de água, argila e alguns
aditivos químicos que mantêm a umidade da água por mais tempo. A
aplicação não é feita diretamente nas áreas onde o incêndio já esteja
ocorrendo, mas nos arredores, a fim de evitar que o fogo se alastre.
Apesar de ter estudos preliminares, que mostram situações em que o
uso do retardante não é prejudicial, o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ainda não tem
respaldo legal que aponte a instituição como responsável por aprovar o
uso desses produtos.
“Os incêndios no Brasil ainda são combatidos com meios que não são os
melhores. Precisamos otimizar o combate, com maquinários e aeronaves
mais adequados. Um combate aéreo efetivo é, no caso de grandes
incêndios, a única forma de possibilitar a aproximação dos combatentes
de solo”, destacou.
Beutling avalia que, em todo o mundo, apenas quatro ou cinco empresas
– uma delas, brasileira – fabricam esse tipo de produto, seguindo
padrões de qualidade razoáveis.
Sócio da única empresa brasileira que fabrica retardantes, José
Roberto do Carmo, explica que nos Estados Unidos são gastos anualmente
cerca de R$ 1,5 bilhão em combate a incêndios. “Entre 40% e 50% disso
são destinados a produtos químicos”, disse ele à Agência Brasil.
Com a regulamentação, é possível que outras empresas do setor químico
se interessem pelo negócio. “Cada empresa pode gerar entre 200 e 300
empregos diretos. Se considerarmos os profissionais da área de combate a
incêndios, o setor já emprega, no mínimo, 100 mil pessoas”, estima José
Roberto.
Reportagem de Pedro Peduzzi, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 11/10/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário